“Maggie Chiang”, catering
Já apareceu neste jornal pelo seu restaurante “Maquete”, mas agora a aventura desta apaixonada da cozinha conhece uma nova fase: a arte combinada com comida num projecto de catering personalizado ao qual decidiu dar o seu próprio nome
Um serviço de catering, adaptado ao evento a que se destina, combinando arte com comida é algo que não se vê normalmente. Maggie Chiang resolveu dar vazão às suas duas grandes paixões, cozinha e arte, e é isso mesmo que apresenta num serviço muito próprio, quiçá único.
“É tudo sobre mim”, diz Maggie, “é um trabalho muito pessoal”. Tudo parte de uma ideia dela ou por solicitação dos clientes. A maioria das suas encomendas provêem de “marcas que pretendem realçar a singularidade do evento”, explica Maggie ao HM.
Como exemplo, o lançamento do iPhone rosa da CTM onde, claro, a cor definiu o conceito, ou o de uma exposição de arte com tinta da china onde a criadora usa “tinta de lula e os pratos saíram todos a preto e branco”, como nos conta.
Não existe um menu pré-definido. “As pessoas têm de confiar no meu gosto”, diz. “Posso apenas falar em estilos, como canapés, mas o cliente não faz ideia como vai sair”, revela entre risos.
O processo é muito semelhante ao de uma obra de arte. Parte de um tema, pesquisa e elabora esboços no papel. “Eu pinto”, explica, “crio imagens e depois tento perceber como aplicá-las na comida.”
Um processo de experiência e erro que demora até chegar ao final desejado. Para além disso, “quando se fala de catering”, explica, “tenho de me preocupar com a durabilidade dos pratos, pois todos têm um período óptimo para serem consumidos.”
DO PAPEL PARA O PRATO
“Cozinhar não demora muito”, confessa Maggie, “mas o conceito pode levar entre dez dias a duas semanas para desenvolver”. Até mais, como um mês ou mais de três como foi o caso do “Jantar Contos de Fada”, um projecto artístico concebido para celebrar o dia de São Valentim e desenvolvido em conjunto com Giulio Acconci, artista plástico e músico.
A “piéce de resistance” do serviço de catering Maggie Chiang são esses jantares. “Cada prato tem uma história”, revela. “São jantares com uma mensagem positiva por detrás.” O primeiro e único organizado até agora tinha por tema “A Procura do Amor”. Seis pratos, que custaram 850 patacas por pessoa.
“Não acho que tenha sido caro e tenho a certeza que foi uma experiência única”. Cada prato era introduzido com uma peça gráfica de Giulio Acconci e ela própria surgia na sala para contar a parte da história até esta ser concluída na sobremesa.
“O negócio não vai mal”, garante, “é um nicho, os hotéis fazem alguma coisa mas normalmente apresentam comida em pratos e mais nada. Nem os chefs ‘sobem ao palco’ para ‘desenharem’ no local, como eu faço”, diz.
PAIXÃO DE CRIANÇA
Desde os seis anos que a paixão culinária a envolve. “Tentava fazer bolos mas a coisa não corria bem. Falhei muitas vezes”, diz a rir-se.
Um dia, apareceu uma tia salvadora que a colocou no caminho certo e, aos 11 anos, já dominava a ciência.
“Brincava mais na cozinha do que com bonecas”, revela.
Acabou a estudar gestão estratégica por pressão do pai que a queria ver ligada aos negócios mas foi sempre fazendo bolos para festas de amigos.
O curso levou-a a trabalhar em marketing e publicidade, surgindo depois as relações institucionais do Galaxy. Isso aborrecia-a e começou um part-time como formadora numa escola de cozinha.
COZINHA É ARTE
Nunca tirou um curso superior mas assegura-nos que “deve ter mais de 30 certificados de cozinha em casa”, confessa bem disposta. Esgotou os cursos todos em Macau, Hong Kong e Taiwan. Cursos curtos mas onde ia aprendendo técnicas diferentes. “Nunca parei de aprender”, explica.
Há dez anos, um curso do IFT de “Cordon Bleu” ministrado por um chefe francês, fê-la perceber que tinha de ir para a Europa estudar. Em 2012 abalou para Turim e depois Paris.
Mas foi em Hong Kong que surgiu a revelação ao participar num curso do conceituado chefe italiano Massimo Bottura. “Era um artista”, explica. Dizia-me que cozinhar é arte, forma de expressão pessoal e não apenas know-how”, conta Maggie.
Foi o clique. Comida e Arte. As suas duas paixões juntavam-se, finalmente. “Cada prato dele era uma peça de arte”, garante. “O mais famoso chamava-se ‘Cinco Consistências de Parmesão’ um conceito sobre cores, texturas e formas. Uma abordagem muito diferente das técnicas tradicionais de cozinha”, garante.
Com tantas influências perguntámos-lhes pela síntese da sua própria cozinha que Maggie garante ser “contemporânea ocidental”, apesar de reconhecer poder ser estreito pois também utiliza técnicas chinesas na preparação.
Interessante é a forma como sintetiza as cozinhas: “A italiana”, começa por explicar, “revela o melhor de cada ingrediente. A francesa faz com que a comida pareça decente (risos), a portuguesa são sabores intensos e a Chinesa é a perícia”.
Uma equação onde, para ela, até a filosofia e a psicologia entram. “Das texturas à expressão visual tudo afecta a experiência. A disposição dos ingredientes, por exemplo, é crucial para condicionarmos a ordem de ingestão.”
EXPOSIÇÃO NA CALHA
“O meu sonho é produzir uma exposição de comida e arte”, confessa. Estava previsto para o início do ano mas ainda não saiu. “Tenho muito em que pensar”, explica, pois “os pratos têm um tempo para serem ingeridos e quem chegar tarde vai perder o espectáculo”, adianta. Mas isso não chega para desmoralizar. “Existem exposições para serem vistas como as de arte em açúcar”, diz, “mas isto é comida. Tem de ser ingerida, cheirada, experimentada”.
A efemeridade desta arte é algo que não a preocupa um pouco, “normalmente, são os comensais a preocuparam-se pois não querem destruir os pratos. Mas eu satisfaço-me com o processo de criação”, remata. E nós com a sua arte.
O catering de Maggie Chiang pode ser visto em www.maggiechiang.com